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terça-feira, 27 de julho de 2010

PRIMEIRA CARTA DE SÃO CLEMENTE AOS CORÍNTIOS - (primeira parte)

INTRODUÇÃO

A Igreja de Deus estabelecida transitóriamente em Roma à Igreja de Deus estabelecida transitóriamente em Corinto, aos eleitos santificados na vontade de Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo: que a graça e a paz vos sejam dadas em plenitude da parte de Deus todo-poderoso, por Jesus Cristo.

CAPÍTULO I

1 Por causa das desgraças e calamidades que repentina e continuamente se abateram sobre nós, talvez estejamos a tratar tardiamente dos acontecimentos que se deram entre vós, meus caros, e daquele motim, não conveniente a eleitos de Deus, iniciado por algumas pessoas irrefletidas e audaciosas, de uma forma sórdida e ímpia, surgido de tal ponto de loucura, que o vosso nome, dantes estimado, acatado e celebrado por todos, fosse seriamente denigrido.

2 Ora, quem é que esteve entre vós e não elogiou vossa fé extraordinária e firme? Quem não admirou vossa piedade consciente e suave em Cristo? Quem não louvou a tradição da vossa hospitalidade generosa? Ou quem não vos felicitou por vossa doutrina perfeita e segura?

3 Fazíeis tudo sem distiguir as pessoas e andáveis dentro dos preceitos de Deus, sujeitando-vos aos vossos guias e respeitando devidamente os vossos anciãos. Aos jovens, transmitíeis conceitos prudentes e honrosos; às mulheres, recomendáveis para que cumprissem todos os seus deveres com consciência irrepreensível, de forma santa e pura, amando convenientemente seus maridos; e ainda as ensináveis a administrar a vida doméstica dentro das normas de obediência e da mais absoluta discrição.

CAPÍTULO II

1 Vós todos ainda possuíeis sentimentos de humildade, isentos de qualquer vaidade, mais dispostos a submeter-vos do que a submeter, dando com mais gosto do que esperando receber. Contentando-vos com o que Cristo vos dava como alimento e meditando sobre suas palavras, vós as guardáveis com tanto cuidado no coração mesmo enquanto tínheis sofrimentos pairando diante dos vossos olhos.

2 Assim, uma paz profunda e abençoada comunicava-se a todos, e um desejo insaciável de praticar o bem, assim como a plena efusão do Espírito Santo, eram produzidos em todos.

3 Repletos de uma santa vontade, em bom zelo, levantáveis as vossas mãos piedosamente para o Deus onipotente, suplicando-lhe sua misericórdia quando cometíeis involuntariamente alguma falta.

4 Dia e noite, travava-se entre vós uma luta em favor da total fraternidade, para conseguir, pela misericórdia e conscienciosidade, a salvação de todos os seus eleitos.

5 Autênticos e incorruptos vós éreis, não possuíeis malícia uns para com os outros.

6 Toda revolta e todo cisma vos causavam horror. Ficáveis entristecidos ao ver as faltas dos outros; o que os outros cometiam, tínheis como vossas próprias faltas.

7 Não havia por que vos arrepender de qualquer omissão de bondade, já que estáveis dispostos a toda boa ação.

8 Ornados por uma conduta virtuosa e honrosa, cumpríeis todas as vossas ações em seu temor. Os mandamentos e as justas normas do Senhor estavam escritos sobre as fibras dos vossos corações.

CAPÍTULO III

1 Plena reputação e prosperidade vos foi concedida, cumprindo-se a palavra da Escritura: "O bem amado comeu e bebeu, engordou e encheu-se de comida, e tornou-se desobediente".

2 Daí nasceram o ciúme e a inveja, a discórdia e a revolta, a perseguição e a desordem, a guerra e o cativeiro.

3 Desta forma, os desonrados levantaram-se contra os honrados, os desrespeitados contra os respeitados, os insensatos contra os sensatos, os jovens contra os anciãos.

4 Por isso, afastou-se para longe a justiça e a paz no exato momento em que cada um abandonou o temor de Deus e obscureceu o olhar em sua fé, não andando conforme o que prescreve os seus mandamentos, não se conduzindo da maneira digna de Cristo. Ao invés, cada qual anda segundo os desejos de seu coração perverso, admitindo em si um ciúme injusto e ímpio, ciúme este que gerou a morte para o mundo.

CAPÍTULO IV

1 Porque assim está escrito: "E aconteceu, após alguns dias, que Caim oferecesse a Deus um sacrifício com os frutos da terra e também, por sua vez, Abel oferecesse das primícias dos rebanhos e de suas gorduras.

2 E Deus olhou para Abel e seus dons, não reparando, porém, em Caim e seus sacrifícios.

3 Então Caim se entristeceu muito e seu rosto se abateu.

4 Então o Senhor falou a Caim: 'Por que te tornaste sombrio e por que teu rosto anda abatido? Acaso não pecaste? Ora, embora tua oferenda seja correta, tua escolha não o foi.

5 Acalma-te, pois a oferenda voltará a ti e poderás dispor dela'.

6 Então Caim falou a Abel, seu irmão: 'Vamos para a planície'. E ocorreu que, enquanto estavam na planície, Caim se levantou contra Abel, seu irmão, e o matou".

7 Vide, irmãos: foram o ciúme e a inveja que produziram o fratricídio.

8 Por causa do ciúme, nosso pai Jacó teve que fugir da presença de Esaú, seu irmão.

9 O ciúme fez com que José fosse perseguido à morte e acabasse preso.

10 Foi o ciúme que obrigou Moisés a fugir da presença do faraó, rei do Egito, na hora de ouvir um de seus compatriotas: quem é que te constituiu árbitro e juiz sobre nós? Não queres matar-me, da mesma forma como ontem mataste o egípcio?

11 Por causa do ciúme, Aarão e Maria foram expulsos do acampamento.

12 O ciúme conduziu Datã e Abirão vivos para o Mundo dos Mortos, por se revoltarem contra Moisés, servo de Deus.

13 Por ciúme, Davi não apenas obteve inveja da parte dos estrangeiros, como também foi perseguido por Saul, rei de Israel.

CAPÍTULO V

1 Agora, para colocarmos fim aos exemplos antigos, passemos aos atletas que nos tocam de perto; verifiquemos os nobres exemplos da nossa geração.

2 Por ciúme e inveja foram perseguidos e lutaram até à morte as nossas colunas mais elevadas e retas.

3 Fixemos nossos olhos sobre os valorosos apóstolos:

4 Pedro, que por ciúme injusto não suportou apenas uma ou duas, mas numerosas provas e, depois de assim render testemunho, chegou ao merecido lugar da glória.

5 Por ciúme e discórdia, Paulo ostentou o preço da paciência.

6 Sete vezes acorrentado, exilado, apedrejado, missionário no Oriente e no Ocidente, recebeu a ilustre glória por sua fé.

7 Ensinou a justiça no mundo todo e chegou até os confins do Ocidente, dando testemunho diante das autoridades. Assim, deixou o mundo e foi buscar o lugar santo, ele, que se tornou o mais ilustre exemplo da paciência.

CAPÍTULO VI

1 A esses homens de conduta santa, ajuntou-se grande multidão de eleitos que, por ciúme, suportaram muitos insultos e torturas, transformando-se no mais belo exemplo entre nós.

2 Por ciúmes, mulheres foram perseguidas, como Danaídes e Dircês, e sofreram afrontas cruéis e sacrílegas, percorrendo a segura trajetória da fé e obtendo o nobre prêmio, elas, que eram fracas de corpo.

3 Foi o ciúme que separou esposas e maridos, afrontando a palavra de nosso pai Adão: "Ela é osso dos meus ossos e carne da minha carne".

4Ciúme e intriga destruíram grandes cidades e eliminaram nações poderosas.

CAPÍTULO VII

1 Caríssimos, ao vos escrever tais coisas, não apenas vos levamos à refletir, mas também advertimos a nós mesmos, já que nos encontramos no mesmo campo de batalha, nos esperando a mesma luta.

2 Abandonemos, assim, as opiniões vazias e tolas, voltando-nos para a gloriosa e santa regra da tradição.

3 Vejamos o que é belo, agradável e aceito aos olhos daquele que nos criou.

4 Fixemos a vista no sangue de Cristo e compreendamos o quanto é precioso aos olhos do Pai pois, derramando-o por nossa salvação, ofereceu-o ao mundo inteiro pela conversão.

5 Percorramos todas as gerações e aprendamos que de geração em geração o Senhor deu possibilidade de conversão àqueles que a Ele quiseram retornar.

6Noé anunciou a conversão e os que a aceitaram se salvaram.

7 Jonas anunciou a ruína aos ninivitas; os que fizeram penitência de seus pecados, por suas súplicas, reconciliaram-se com Deus e alcançaram a salvação, ainda que fossem estranhos a Deus.

CAPÍTULO VIII

1 Sobre a conversão falaram os ministros da graça de Deus, sob inspiração do Espírito Santo.

2 Sobre a conversão também falou o próprio Senhor de tudo, ao jurar: "Tão certo como vivo - diz o Senhor - não quero a morte do pecador, mas sua conversão". E acrescentou:

3 "Convertei-vos de vosso erro, casa de Israel! Dize aos filhos do meu povo: 'ainda que os vossos pecados se amontoassem da terra até o céu, ainda que estes fossem mais vermelhos que a púrpura e mais negros que o saco, se vos voltardes para mim de todo coração e disserdes: 'Pai!', eu vos atenderei como se fosses um povo santo'".

4 Em outra parte, ainda fala: "Lavai e purificai-vos. Afastai dos meus olhos as maldades de vossas almas. Deixai vossas maldades e aprendei a praticar o bem; procurai a justiça, socorrei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a viúva, e então vinde para colocarmos as coisas em ordem - diz o Senhor. E se os vossos pecados forem como a púrpura, os tornarei brancos como a neve; se forem escarlate como a lã, os farei alvos. Se vos dispuserdes a me escutar, comereis os bens desta terra; porém, se não quiserdes me ouvir, a espada vos devorará - assim fala a boca do Senhor".

5 No desejo de levar a todos os seus amados a participarem da conversão, fortaleceu-vos por sua vontade toda-poderosa.

CAPÍTULO IX.. comtinua
                                        

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